SALUTE, nação! Não há como dourar essa pílula, falar sobre SUICÍDIO é sempre difícil. O tipo de assunto que só costumamos discutir quando nos atinge diretamente ou chega bem perto de nós. Exatamente por isso o primeiro alerta desta matéria já vem bem no início: muito mais pessoas à nossa volta do que imaginamos já tiveram essa intenção. Segundo estudo realizado pela UNICAMP, a Universidade Estadual de Campinas, e divulgada pelo CVV, o Centro de Valorização da Vida, 17% dos brasileiros em algum momento já pensou seriamente em pôr fim à própria vida. Desses, 4,8% chegaram a elaborar um plano de como levar isso a cabo. Todos os dias, cerca de 32 brasileiros morrem vítimas de suicídio. Essa informação te fez lembrar de alguma situação ou pessoa? Pode ser que a sua intuição esteja certa. Então, peço que você acompanhe com muita atenção essa nossa conversa.

O suicídio é uma demanda de saúde pública multifatorial. Fenômenos como depressão, consumo de drogas e álcool, etarismo, capacitismo, castigos físicos, violência doméstica, violência psicológica, assédio, racismo, homofobia, negligencia, abandono, bullying, abuso sexual, desemprego e a precarização da vida, são fatores que, muitas vezes, estão ligados à uma ausência de possibilidades de futuro que podem fazer com que pensamentos suicidas se tornem reais. Mas, se essas são questões atravessadas diariamente por diversas pessoas, como enxergar a vida para além dessa realidade? A criação de lugares de acolhimento e confiança, onde problemas possam ser expressos, são ações possíveis e ao alcance de todos nós para reduzir o número de vulneráveis. Mesmo assim, para aprendermos a atuar coletiva, preventiva e efetiva, a primeira medida precisa ser a educação.

SETEMBRO AMARELO 2023 – CVV

Durante um longo tempo, houve muito medo de que falar sobre suicídio pudesse resultar no aumento de casos. Entretanto, suicídios não são causados por campanhas e debates. Ele sempre é um acontecimento complexo. Na maioria dos casos, a pessoa não tem como objetivo final, realmente, a morte. Mas sim, o fim do sofrimento pelo qual está passando. Sendo, o fim da vida, o único jeito que enxerga no momento para fazer cessar. Felizmente, de algumas décadas para cá, com o sucesso e diversificação de iniciativas como o SETEMBRO AMARELO, trazer o assunto à tona, fazer com que essas pessoas saibam que não estão sozinhas e que existem meios de procurar apoio, tem sido mais frequente nas redes sociais e nas rodas de conversa.

O Setembro Amarelo se originou no Brasil em 2014, por meio de uma campanha criada pelo Centro de Valorização da Vida, CVV, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria, ABP. Como 10 de setembro já era considerado o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, a proposta surgia como uma forma de aumentar a conscientização sobre a prevenção ao suicídio e dar mais espaço para discussão de propostas durante mais tempo.

Para nos ajudar com o tema, nos ensinar mais sobre o assunto e, principalmente, como oferecer ajuda, o SALUTE! trouxe para o bate-papo o psicólogo e atual PRESIDENTE DO CVV FRANCA-SP, Ricardo William Souza Cruz.

Ricardo, o Centro de Valorização da Vida é uma associação civil de filantropia, sem fins lucrativos, fundada em 1962, reconhecida como Utilidade Pública Federal em 1973, além de mantenedora e responsável pelo Programa de Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio. Hoje você comanda o CVV de Franca, município do interior do Estado de São Paulo, mas já é voluntário do CVV há, pelo menos, 16 anos. Como conheceu o projeto e por que decidiu participar?

Entrei no trabalho quando completei 18 anos. Ter 18 anos e uma disponibilidade de 4h semanais é o pré-requisito que  se pede para ser um voluntário. E sempre tive essa missão de ajudar. Ajudar ouvindo, compreendendo com carinho e acolhendo quem precisa conversar. Foi através da feira da Fraternidade, um evento que acontecia na cidade de Franca, que conheci o trabalho.

FOTO RICARDO WILLIAM

Pelo que eu li do material da CVV, essa escuta que compreende e acolhe, respeitando o momento e a forma de pensar de quem está vulnerável a pensamentos suicidas, é uma parte importante do trabalho de preparo dos voluntários. Em Franca, como teve início o atendimento do CVV?

A iniciativa do nosso posto de atendimento em Franca aconteceu há 42 anos, quando alguns estudantes que moravam em São Paulo e eram da cidade de Franca perceberam a necessidade de existir um posto de atendimento na cidade, uma vez que, na capital, já existia. No Brasil, o trabalho em si tem 61 anos. Nós nos dividimos em regionais. O posto da cidade de Franca faz parte da regional noroeste paulista, onde estão interligados 16 postos. Então, esses jovens que já conheciam o trabalho na capital, trouxeram o serviço para a cidade. No geral, nós temos mais de 100 postos espalhados no Brasil, 3582 voluntários e 3 milhões de atendimentos anuais.

Números grandes para atuar em um cenário gigante. Como fiquei sabendo através de vocês, a cada 40 segundos  uma pessoa se mata no mundo, somando quase um milhão de pessoas todos os anos. Isso fora a estimativa de que 10 a 20 milhões de tentativas, no mesmo período. Dentro desse quadro, quais são os objetivos dos CVV’s?

O objetivo do trabalho é acolher e cuidar. Cada voluntário é treinado para ter uma escuta ativa, ouvir com os olhos e com coração. É preciso ter uma escuta simpática para acolher o outro que precisa de ajuda. Nesse Setembro Amarelo falamos da prevenção do suicídio, mas devemos falar sobre prevenção do suicídio todos os dias.  E por que falar da prevenção do suicídio? As pessoas têm alegrias todos os dias, têm tristezas todos os dias. Sofrem e passam por situações boas e situações ruins. Então, o trabalho tem de estar na vida de quem precisa todos os dias. É preciso falar sobre prevenção.  Atendemos 24h por dia, sete dias da semana, para acolher, ouvir e oferecer carinho a quem tanto precisa. Costumo dizer que o trabalho é um ponto socorro emocional.

SETEMBRO AMARELO 2023 – CVV

Uma das informações mais importantes que tive no CVV foi que, quando o suicídio parece ser uma saída, a vontade de viver aparece resistindo ao desejo de se autodestruir. Mas também, que os pedidos de socorro de quem vem tendo pensamentos suicidas podem ser difíceis de serem identificados. Nesses casos, quais são os sinais de alerta?

Os sinais de alerta começam quando as pessoas se isolam. Se isolam por falta de trabalho,  por falta ou perdas que aconteceram na vida. Os motivos podem ser vários. Drogas são sintomas importantes, por exemplo. As pessoas que têm sintomas para o suicídio costumam achar também que não servem pra nada. Mas o isolamento é um dos principais sintomas. Nós temos um índice muito sério. Adolescentes e idosos são os que mais se suicidam. Percebo que após a pandemia os laços familiares, os laços entre as amizades, se perderam um pouco. As pessoas não sabem mais fazer amizades, os vínculos ficaram fracos. Estamos tendo que aprender tudo novamente e os jovens estão nessa. Isso  é muito grave. É preciso falar para conscientizar e cuidar de quem precisa de ajuda.

Caso alguém que esteja nos acompanhando queira ser voluntário do CVV Franca ou em qualquer outra unidade, como pode se candidatar?

Para ser voluntário do trabalho é necessário ter a partir de 18 anos,  vontade de querer ajudar o outro e disponibilidade de 4h semanais. Mais informações e como se inscrever, os voluntários podem encontrar no link: https://www.cvv.org.br/inscricao-para-novos-voluntarios/

Para fecharmos, em meados de 2023, às vésperas do Setembro Amarelo, o CVV de Franca foi furtado e, por não ter condições de manter o atendimento antes de substituir os equipamentos levados, precisou entregar o imóvel municipal onde atuava para a Prefeitura. Mas, graças ao reconhecimento do trabalho, o IMA, Instituto de Medicina do Além, uma instituição espírita, ofereceu um novo local onde os atendimentos estão sendo realizados, provisoriamente e sem nenhuma ajuda do poder público. Para quem puder contribuir também nessa frente, como ajudar?

Para que os atendimentos sejam realizados, o CVV depende da generosidade da população para repor os itens furtados. São necessários: cadeiras, computadores, fones de ouvido, impressoras, mesas e notebooks. As doações podem ser realizadas através da chave PIX (CNPJ) 54.157.714.0001/37. Caso a doação for material, pode levar até a sede do CVV no IMA, na Rua Tarsila do Amaral, 550, em Franca-SP, tel. (16) 3705-4411, ou entrar em contato através do telefone (16) 99977-1661. 

VOLUNTARIADO CVV

Antes de nos despedirmos, é indispensável deixar claro que saúde mental é todos os dias, não apenas no Setembro Amarelo. Além de ouvir e acolher, também é urgente resolver cotidianamente os problemas sociais,  o preconceito estrutural e a precarização da vida, além de fortalecer a rede de atenção psicossocial gratuita, para que o suicídio seja realmente combatido. E, por mais que o debate seja importante, a Organização Mundial da Saúde desaconselha a exposição de métodos ou processos de suicídio, para evitar que isso incentive outras mortes. Se você quiser saber mais, o CVV disponibiliza outros materiais para a consulta em cvv.org.br/conheca-mais .

Sobre a Bearded Villains:

Reunidos em 165 Chapters e presentes em 36 países nos cinco continentes, somos a maior irmandade filantrópica de barbudos no mundo. Em nosso país, seguindo os valores fundamentais de apoio à comunidade local, trabalho voluntário e eventos de caridade da BV Internacional, a Bearded Villains Brasil é o Chapter nacional mais antigo. Em atividade desde novembro de 2015, dividimos com nossos dois outros Chapters Irmãos brasileiros, BV Centro Oeste e BV São Paulo, os mesmos princípios de promoção da ética, paz, cidadania e direitos humanos.

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